Raí é um rapaz que tem um bar na esquina da minha rua. Quando me mudei, pedi para ele guardar minhas insulinas até que a geladeira fosse instalada. Quando viu a caixinha de isopor ele me disse:
- Você é diabética? Eu também sou.
Perguntei como ele estava e ele disse que tudo bem. Volta e meia, quando nos cruzamos eu pergunto se ele está sob controle. Ele sempre dizia que sim. Na quinta-feira passada, meu marido foi comprar refrigerante no bar e notando que ele estava abatido perguntou se estava tudo bem. Ele disse que o açúcar devia estar alto pois sentia muita dor de cabeça, cansaço, sede e muita fome.
No dia seguinte vi que ele realmente parecia mal. Perguntei se foi ao médico e ele disse que não. Perguntei se ele sabia quanto estava seu açúcar. Ele não sabia. Rapidamente saquei o monitor e pedi que lavasse a mão. Acho que nem pedi para fazer o teste. Fui logo fazendo. Ele concordou. Parecia preocupado.
Depois de poucos segundo, o resultado em duas letras: HI. Na minha ignorância, como não lembro de ter visto isso no meu visor, pensei que pudesse ser HIPO ou HIPER. Disse que consultaria o manual. E era HIPER mesmo, acima de 350 provavelmente. Alertei que ele precisava ir urgentemente ao médico e ele prometeu ir. Era hora do almoço e o bar estava cheio de gente.
Saí para a fisioterapia e quando voltei passei no bar. Ele tinha acabado de almoçar e estava cochilando sentado na mesa do bar. Ainda parecia mal e eu fiz o que jamais imaginei que tivesse coragem de fazer: ofereci para levá-lo ao hospital. Era sexta-feira e provavelmente, sem atendimento médico, ficaria dois dias ou mais com níveis elevadíssimos de açúcar no sangue. Risco de enfarte, coma, amputação, cegueira...imaginei o pior e não pude ficar sem fazer nada.
Ele concordou e deixei ele no UPA - Unidade de Pronto Atendimento mais perto. Voltei pra casa, cuidei da minha vida e mais tarde liguei para ele. Raí disse que no hospital o monitor marcou 544. O médico deu insulina e soro e depois de um tempo foi para 522. Ele precisou tomar medicação na veia e estava esperando voltar a faixas suportáveis.
Acho que ele precisava se assustar mesmo. Perguntei pra ele no caminho até o UPA:
- Você tem filho?
- Tenho.
- Você quer morrer?
Ele respondeu que não. Então eu disse:
- Então você precisa se cuidar. Pra ver ela crescer, para não perder nenhum orgão e ficar dependente dos outros, pra continuar a trabalhar no bar que tanto gosta. Precisa se cuidar para continuar vivendo.
À noite, ainda na mesma sexta-feira, ele já estava de volta ao bar. Meio assustado, meio aliviado, meio com vontade de melhorar. Eu estou aqui do lado dele para ajudá-lo.
Alguém tem uma história semelhante para contar. Vamos lá?
Beijos
3 comentários:
Oi amiga!
Nossa, ficou muito bom o visual do blog, bem melhor que antes! Parabéns! O conteúdo, excelente como sempre!
Muito bacana a história que contou. Eu ainda não tenho nenhuma pra contar, mas partilho com você a alegria de ter visto mais este exemplo aqui no seu blog.
Abração!
Sheiloca,
amei sua atenção ao proximo é isso ai não ficarmos a quem...
No final do ano passei por uma experiencia parecida, reencontrei o 1o marido da minha mae, em dezembro ele nos liga falando que nao estava bem, ele é diabetico e budista. Estava na cama, sem forças para levantar.
Minha mae foi ate ele chegando la ela viu a situação e me ligou fui ate la levei o aparelho de glicemia pois ele nao fazia monitoramento (nenhum acompanhamento!)
Tb deu high que é acima de 500 chamamos o SAMU e eles o levaram para a UPA. La detectaram mais de 500 de glicose e uma fissura no pe.
A medica pediu que a ferida nao abrisse e ela abriu.
Resumindo ele ficou internado quase amputou o pe teve que fazer uma retirada de material, ficou em coma induzido apos a cirurgia quase foi pois nao fazia q.q controle glicemico ou remedio somente orava para Buda.
Felizmente agora esta em casa dei um aparelho de glicemia e ele faz o controle e toma glifage nao é insulino denpendente.
Conclusao temos que estar ATENTOS nao vacilar nos cuidar!!
eu tambem sou diabética e preciso me cuidar mais...
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